Cada português só compra bilhetes para um espectáculo de dois em dois anos. Isto incluindo concertos e festivais – se falarmos apenas de teatro, os números são ainda mais preocupantes.

Trabalhar em cultura em Portugal é viver preso a um paradigma que não interessa a ninguém – dos agentes aos espectadores – e que, ainda assim, parece ser perpetuado diariamente: que somos forçados a escolher a Arte ou o Público. Entre o Público e o Respeito.

Recusamos este paradigma. Como método, como filosofia de trabalho e como visão de futuro, recu­samo-lo.

A Força de Produção acredita, desde o primeiro momento, que não há o Teatro sério e o Teatro co­mercial, mas sim o Teatro bom e o Teatro mau. Que uma peça comercial pode ser extraordinária e uma peça experimental pode ser um sucesso de bilheteira.

Acreditamos que a única maneira de inverter os números dramáticos que temos hoje e levar regular­mente os portugueses às salas é aliando estas duas correntes ao serviço de uma revolução, de um manifesto, de um novo paradigma. Uma nova forma de olhar para o Teatro, em que todos temos a aprender uns com os outros. Em que a conquista de um novo espectador de teatro, seja em que sala for, beneficia todas e se transforma num bilhete vendido noutro espetáculo, noutra sala, noutra ideia. Em que conseguir dar continuidade ao amor ao palco – um amor contínuo, contagioso, muito maior que um único produtor ou corrente – não é uma ferramenta de marketing, mas um grito claro e audível sobre a Responsabilidade Cultural que é de todos nós, agentes desta área, tão diversa e tão nobre.

Chegamos a este momento e a esta oportunidade – a de fazer cultura no Maria Matos – guiados por esse compromisso. Pela noção de que ser escolhido para entrar no Maria Matos é a Responsabilidade e Honra de passar a fazer parte de uma rede de pessoas e palcos que juntos dão forma à memória colectiva de uma cidade.

Quem aqui chegar motivado por ambição económica ou ego rapidamente reconhecerá um desafio difícil, pesado, arriscado. Um desafio que só deve – só pode – ser aceite à luz desta Responsabilidade – a de dar aos nossos filhos uma Lisboa com memória, com ideias, com ar fresco e com gente nas cadeiras para o respirar.